quinta-feira, 28 de abril de 2011

Nas Paredes e na Ilustrada

Saiu nessa quinta-feira, 28 de abril, matéria sobre o lançamento do filme na Ilustrada da Folha de S.Paulo. Confira abaixo.


FILME INVESTIGA AS VIAGENS DE "PAÊBIRÚ"
Disco criado por Zé Ramalho e Lula Cortes em 1974 é o mais raro do país
Brigado com Cortes há anos, Ramalho não quis dar depoimento ao documentário, mas liberou uso das canções
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Mais que um simples road movie, "Nas Paredes da Pedra Encantada", que estreia no sábado, dentro da programação do festival In-Edit, é uma "viagem sobre uma viagem sobre uma viagem". A definição é dos próprios realizadores, Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim. Em busca de investigar a feitura do mitológico álbum "Paêbirú" (1975), de Lula Cortes e Zé Ramalho, a dupla percorreu o interior da Paraíba até a Pedra do Ingá, sítio arqueológico rodeado de lendas que inspirou o trabalho.

Essa é a terceira viagem a que os diretores se referem. A primeira foi a que Cortes (1950-2011) e Ramalho fizeram à mesma pedra em 1974, à procura de inspiração para compor o álbum. Dormiram ali, ao relento, muitas e muitas noites -no filme, Lula fala em 12 visitas ao local. Aos pés da pedra, os músicos colheram cogumelos alucinógenos, fizeram fogueira, usaram LSD. A segunda viagem é, portanto, psicodélica. "No projeto original [do filme], Lula queria que todos da equipe tomássemos um LSD puro", diz Cristiano Bastos. "Queria nos levar à Pedra repetindo a experiência na íntegra. Isso, é preciso dizer, acabou não acontecendo."

Criado sob esse clima alucinado, o LP "Paêbirú" acabou por se tornar uma das peças mais importantes do rock psicodélico brasileiro - "legitimamente brasileiro", aliás, como lembra Bastos."Os caras foram buscar a psicodelia numa lenda indígena, não nos elfos ingleses."

O que deu ainda mais potencial mitológico ao trabalho foi seu trágico destino. Poucos dias depois de ser prensado, ainda no estoque da gravadora Rozenblit, uma inundação destruiu mil das 1.300 cópias existentes. Isso tudo o torna o vinil mais raro do Brasil, nunca custando menos de R$ 5 mil.

Lula Cortes morreu no começo deste ano. E é em torno dele que o filme gira. Entram em cena também outros envolvidos no álbum, como o fotógrafo Fred Mesel, a capista Kátia Mesel e alguns músicos, como Alceu Valença. Zé Ramalho, no entanto, não dá depoimento algum. Coautor do álbum em questão, ele não quis ter sua imagem no documentário. "Ele e Lula estavam com relacionamento cortado há muito tempo", explica Bastos. "Zé me liberou completamente para usar as músicas no filme. Só não queria imagem dele. Que diabos levaram às rusgas dos dois não nos interessou tanto. Não quisemos evidenciar o viés de uma picuinha dentro de uma história tão bonita."

NAS PAREDES DA PEDRA ENCANTADA
DIREÇÃO Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim
PRODUÇÃO Brasil
QUANDO sábado, às 19h
ONDE Cine Olido (av. São João, 473, tel. 0/xx/11/3331-8399)
CLASSIFICAÇÃO não informada

Fonte: Folha de S.Paulo

terça-feira, 19 de abril de 2011

Nas Paredes do Rio de Janeiro

Amigos cariocas: confirmado! Nas Paredes da Pedra Encantada de Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim (Brasil, 2011, 130min) terá sua premiére carioca dentro da programação do Festival Internacional de Documentário Musicais, IN-EDIT. Será no dia 7 de maio, sábado, às 21h, no Artplex Botafogo.

Foto: Ricardo Moura

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Lula + Dalí

Abaixo, reproduzimos matéria publicada no Correio da Paraíba do dia 31 de março. Nela está uma das histórias contadas por Lula Côrtes durante a filmagem do documentário, um visita que fez com Kátia Mesel à casa do pintor espanhol Salvador Dalí. Clique na imagem para ver em tamanho maior.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Doc estreia no fim no mês

Prestes a ser lançado nacionalmente no In-Edit, o doc Nas Paredes da Pedra Encantada ganha matéria de Luiz Filipe Tavares na revista TRIP. Confira.

Foto: Flora Pimentel

NA TRILHA DO PAÊBIRÚ
Por Luiz Filipe Tavares
Nas Paredes da Pedra Encantada estreia com história mística do disco mais caro do Brasil

Em produção desde 2009, o filme Nas Paredes da Pedra Encantada finalmente tem uma data de estreia definida. O documentário de Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim, que conta a mística história por trás da obra-prima de Lula Côrtes e Zé Ramalho, a pérola psicodélica Paêbirú, finalmente chega às salas de cinema na edição 2011 do festival In-Edit, que rola de 28 de abril ao dia 12 de maio nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Conversamos com Cristiano Bastos, co-diretor do filme, para falar sobre a produção do documentário que sai depois de uma infeliz coincidência: a morte do cantor, compositor e pintor Lula Côrtes. Personagem central da história, Lula deixou órfãos milhares de fãs ao redor do mundo no último sábado (26), em um leito no hospital Barão de Lucena, em Recife, vítima de um câncer na garganta que combatia nos últimos cinco anos. Nascido de uma grande reportagem que o diretor fez para a Rolling Stone, o embrião de Nas Paredes da Pedra Encantada foi alimentado pelo próprio Lula, que se responzabilizou em guiar essa viagem de volta à mística Pedra do Ingá.

"Quase tudo foi feito por conta dessa lenda de Sumé, que perpassa todo o disco. A Pedra do Ingá do Bacamarte, que influenciou o disco também, foi um dos caminhos que o índio Sumé teria passado em fuga dos índios Tupinambá. Por isso seria Paê-beru (em Tupi, Caminho ao Peru). É o caminho que o índio percorreu a pé até o Peru", explicou Cristiano. "É um disco que tem muito valor financeiro, é verdade. Mas mais do que isso. Esse disco tem muito valor cultural. É uma das primeiras manifestações da psicodelia realmente brasileira, com temas verdadeiramente brasileiros."

E o valor financeiro não é pouco não. Devido a uma enchente que varreu Recife em 1975, apenas 300 cópias do disco sobreviveram, de 1300 produzidas. Com isso, essa pequena pepita da música psicodélica nacional pode chegar até R$ 5.000 no mercado dos colecionadores. Isso se você encontrar alguém disposto a vender. "Há um tempo atrás eu cheguei a ver gente no Orkut vendendo só os vinis, sem as capas e sem nada. Gente que achou o disco no meio de um terreno e vendeu só os vinis, do jeito que estavam, por mais da metade do preço de coleção", conta Cristiano, mostrando um pouco dessa fixação que o disco provoca nas pessoas.

Mas nada tão mesquinho quanto dinheiro pode medir o verdadeiro valor de Paêbirú. A obra definiu toda uma geração de músicos e compositores nordestinos, apropriando-se e ampliando tudo aquilo que a Tropicália trouxe para a música do Brasil na década anterior. Sem saber, a viagem transcedental de Zé Ramalho e Lula Côrtes foi ecoar 35 anos depois do seu lançamento muito além da linha do Equador, sendo relançado nos Estados Unidos e alimentando as mentes de uma nova safra de bandas do folk psicodélico da geração New Weird America (Noah Georgeson, Bon Iver, entre outros).

Lula, descanse em paz

"A última vez que eu falei com o Lula, por incrível que pareça, foi pelo Gtalk. E eu nem sabia que ele usava a internet. E ai ele me mandou uma mensagem perguntando: 'e aí Cristiano? Não vai lançar esse filme, porra?", revela Cristiano, divertindo-se com a surpresa de ver um mestre da cultura de raiz navegando na internet. "Ele ainda brincou, perguntando se depois de tanto trabalho não ia ver o filme lançado. Tive que rir né? E o pior é que ele estava certo."

Triste com a morte do cantor, Cristiano ainda comentou sua relação pessoal com Lula nos três meses que passou entre Pernambuco e Paraíba, coletando depoimentos da imensa maioria das pessoas envolvidas no projeto. Durante esse período, o diretor pode desfrutar da hospitalidade e da companhia de Lula em seu ateliê na região de Jaboatão dos Guararapes, onde conviveu não só com o compositor, mas também com o artista plástico Lula Côrtes.

"Eu tive a chance de passar um bom tempo com ele. Sabe quando você fica tentando absorver a inteligência de uma pessoa? Então. Ele era um cara muito vibrante.Você quer conversar com ele. Quer estar sempre perto dele. Sempre conversando pra extrair aquele conteúdo e toda aquela consciência artística que ele tinha", emociona-se o diretor. "Pior é que a gente ia comprar a passagem dele pra São Paulo nesta segunda (28), mas infelizmente... não foi possível."

Estreia no In-Edit

A terceira edição do Festival Internacional do Documentário Musical, o In-Edit, será o palco da estreia de Nas Paredes da Pedra Encantada nas telas de cinema do Brasil. O festival começa em São Paulo no dia 28 de abril e vai até o dia 8 de maio. No dia 6 de maio serão as primeiras sessões no Rio de Janeiro. Na cidade maravilhosa, o In-Edit 2011 segue até o dia 12. Segundo a assessoria de imprensa do festival, a programação completa deve sair ainda nesta semana.

A estreia oficial do documentário será no Cine Olido, no coração do centro de São Paulo, no próximo dia 30 de abril. Com Lula como guia da viagem, o filme conta com depoimentos de Alceu Valença (que canta com Lula uma música inédita de sua autoria); de Hugo Leão, velho parceiro de Zé Ramalho, que tocou o marcante órgão Farfisa na canção 'Nas Paredes da Pedra Encantada"; da cineasta Katia Mesel, ex-esposa de Lula, que participou da concepção e gravação de Paêbirú; de Raul Córdula, antropólogo paraibano que apresentou a Cortês e Ramalho em 1975 a Pedra do Ingá, que influenciou a criação do álbum; além do cartunista Lailson de Holanda, parceiro no disco Satwa, que precedeu Paêbirú e é tão raro quanto hoje em dia. Zé Ramalho não quis gravar entrevista mas sua presença é marcante no documentário.

Segundo o próprio Cristiano, o processo de captação foi rápido e bastante abrangente. "A produção foi uma coisa bem punk. Eu e o Leonardo resolvemos fazer e dissemos: 'então vamo fazer essa porra'. A gente não quis esperar pra ficar captando, então ninguém se perde em devaneios e digressões. Então a gente decidiu e foi. Eu morei três meses em Recife, mais entre Recife e a Paraíba", explicou Cristiano. "A gente gravou no estúdio do Lula em Jaboatão dos Guararapes, em Ingá do Bacamarte, onde fica a Pedra do Ingá ou Pedra Lavrada, onde tem aquelas inscrições pré-históricas que até hoje ninguém sabe o quer dizer. Além da casa do Alceu Valença e muitos outros lugares."

Nas Paredes da Pedra Encantada é o primeiro filme da dupla Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim e já é um dos lançamentos nacionais de 2011 que você não pode perder. Abaixo, você vê o trailer do filme. Não deixe de assistir para entender um pouco mais da história e da mística por trás do mais caro vinil brasileiro e desse disco seminal da nossa música popular.

Fonte: Revista Trip